Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia da Fiesp: Palestra da economista Mirella Sampaio no ComSaude apresentou perspectivas e projeções para 2018; Brasil depende dos cenários mundiais, mas não precisa preocupar-se grandemente com eventuais crises externas

Durante a plenária realizada na tarde de 6 de junho, quinta-feira, no ComSaude (Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia), da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a economista Mirella Sampaio, que atua no Itaú Asset Management desde 2014, detalhou o atual cenário brasileiro e as perspectivas para o segundo semestre de 2018, as eleições presidenciais e o ambiente de negócios em 2019.

Em ano eleitoral são comuns a indefinição e as inúmeras incertezas. “Não dá para saber o que vai acontecer”, antecipou Mirella lembrando que não podemos tratar os pré-candidatos como candidatos. “Há três meses tínhamos Joaquim Barbosa. Há seis meses, Luciano Huck. Há mais tempo, o ex-presidente Lula. A 120 dias da eleição, as pesquisas eleitorais contam muito pouco”, enfatizou ao deixar claro que, segundo sua visão, a mensagem que as urnas trouxeram ao Brasil indicam uma Presidência da República comprometida em fazer alguns ajustes.

No âmbito das reformas, tão esperadas pelo setor de saúde brasileiro que busca o crescimento e o desenvolvimento, Mirella vê todos os pré-candidatos trabalhando com a real necessidade de reformar os sistemas. “Todos debatem a mesma coisa. Ninguém gosta da reforma da previdência proposta pelo atual governo, mas todos concordam que é preciso mudar de alguma forma”, argumenta lembrando que em um país continental como o Brasil, as dores e as demandas são muito distintas, o que acaba tornando o ambiente mais turvo.

Mirella foi clara ao apontar três importantes amarras do Brasil atual: arcabouço de responsabilidade fiscal, PEC do Teto de Gastos Públicos e Regras de Ouro, instrumento que proíbe o governo federal de emitir dívidas com valores que superem os investimentos e que a especialista detalha com preocupação. “As pessoas não sabem, ou gostam de esquecer, que as regras de ouro determinam que, em caso de descumprimento, os membros da equipe econômica podem ser presos. Quem gostaria de fazer parte de um governo correndo o risco de ser preso?”.

Partindo mais especificamente para o cenário econômico, a especialista afirma que o aumento da taxa de câmbio não está vinculado às eleições de outubro. “Essa elevação reflete uma preocupação, mas ainda não incorpora os riscos que teremos que debater daqui em diante”.

E ainda sobre a questão cambial, a economista acredita que há muita depreciação ainda pela frente, mas tranquiliza ao relembrar que o Brasil conta com uma reserva muito grande e que, considerando todas as demandas de curto prazo, há mais do que o suficiente para controlar as necessidades de financiamento. “Em poucos momentos da história o Brasil esteve tão saudável. Não somos a Argentina, não temos que temer uma crise externa”, declarou.

Adentrando o espectro da inflação, Mirella afirma que vivemos um momento de índices baixos, o que é bastante relevante. A pressão começa a surgir nesse momento no ambiente energético e na logística com a recente greve dos caminhoneiros. “Esperamos encerrar 2018 em 3,8% e trabalhamos com uma taxa de 4,2% para 2019. Não temos tanta pressão pois há atividade”, explica. Já quanto ao PIB, o otimismo diminuiu. “Hoje a perspectiva não é tão boa. Trabalhamos com 2% de crescimento este ano e 3,5% para o ano que vem”, disse lembrando que há alguns meses arriscava um desenvolvimento de 4,5% do PIB em 2019.

Impactos externos e atual momento mundial – Para analisar a atual situação do Brasil, país emergente e que sofre interferência direta das crises e dos momentos políticos e econômicos das grandes potências mundiais, Mirella apresentou de forma bastante dinâmica as realidades de EUA, China e Europa.

Quanto aos norte-americanos, a especialista detalhou a economia local a partir do momento em que Donald Trump assumiu a presidência. “O país estava crescendo já além do natural. Quando começaram os cortes de impostos foi que começamos a nos angustiar com tudo o que isso poderia gerar. Com o Banco Central Norte-Americano subindo os juros – e ele continuará subindo daqui para a frente – os países emergentes entram em um momento delicado. Passamos a ser menos atraentes aos olhos dos investidores estrangeiros”, explicou.

Lembrando que a Europa vive uma constante crise política e que se encontra em um momento de recuperação cíclica, Mirella apontou uma falha dos brasileiros que não aproveitaram a oportunidade para uma aproximação junto aos países europeus. Já quanto à China, lembrou que o foco, por lá, também é político, mesmo não sendo uma democracia. “É um governo que se consolidou no poder e enquanto estiver bem consolidado, terá armas financeiras, políticas e sociais para manter uma narrativa pouco preocupante. É muito difícil que gere uma crise, pois se não ocorreu até agora é sinal de que eles têm poder para coibir momentos mais graves”, disse.

Perfil atual do político brasileiro – Questionada por Ruy Baumer, diretor titular do ComSaude, sobre o tradicional perfil do político brasileiro que busca popularidade e elenca inúmeras propostas em sua campanha, não as realizando durante o mandato, Mirella mostrou como a presença da mídia e até mesmo das redes sociais mudou a política nacional. “Já ouvi, em Brasília, que o grande problema do Supremo Federal começou quando as câmeras da mídia foram ligadas. É da natureza do ser humano querer ser amado. E agora a plateia está cada vez mais constante na vida do político. Eles se preocupam com o eleitorado e com as repercussões nas redes sociais. E a população, por outro lado, vem ganhando cada vez mais consciência do seu papel de cidadã. O brasileiro indo para as ruas é algo novo e que todos ainda estão se acostumando. A greve dos caminhoneiros começou pelo WhatsApp, e isso dá um medo gigantesco a qualquer analista”, declarou.

Ainda durante a plenária desta quarta-feira foram apresentadas as linhas de ação do ComSaude bem como sua atuação política, os convênios de inovação nacionais e internacionais e a interlocução e o engajamento com o setor de saúde por meio da participação em encontros e debates com as principais lideranças da área. As iniciativas que já estão programadas foram apresentadas e Oswaldo Massambani explicou os novos programas e oportunidades propostos pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

Fonte: LinkedIn – ComSaúde